segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Resenha - O Hobbit

O Hobbit é um livro que dispensa apresentações, assim como seu autor, especialmente depois das adaptações feitas para o cinema. De caráter notadamente infantil, é elencado entre as grandes obras de fantasia.
O livro relata a grande aventura vivida pelo hobbit Bilbo Bolseiro (tio de Frodo, em Senhor do Anéis) em sua juventude. O hobbit se une a um bando de anões e ao mago Gandalf na missão de libertar a Montanha Solitária do poderoso dragão Smaug - que a tomou dos ancestrais de Thorin, herdeiro do trono ainda vivo – e assim reaver o reino dos anões e seu tesouro. Thorin e seus doze amigos anões, Bilbo e Gandalf percorrem várias regiões ao longo de centenas de quilômetros, enfrentando perigos e adversidades até se defrontarem com Smaug. Irei parar por aqui para não entregar o final da história.

Para quem deseja aprimorar o vocabulário, O Hobbit é uma ótima alternativa. Além disso, é possível aprender bastante com a magnífica habilidade de Tolkien para descrever os cenários e acontecimentos. O autor recorre frequentemente a figuras de linguagem como metáfora e prosopopeia, tornando por vezes seus densos textos em discursos quase poéticos.
Como já mencionado anteriormente, trata-se de um livro infantil, e como tal deve ser lido, com suas lições sobre avareza, perdão, superação e outros aspectos importantes na formação do caráter. Também não restam dúvidas quanto à sua qualidade no tocante a permitir que a mente viaje por lugares diferentes, sendo apresentada a seres mitológicos como orcs, elfos e o próprio dragão Smaug, bem como a criaturas que guardam grande semelhança com aquelas que conhecemos no mundo real, como lobos ou um homem que vira urso (refiro-me ao urso, para deixar claro).
Entretanto, mesmo que estejamos falando de um mestre da escrita, respeitado e reverenciado por suas obras, há aspectos negativos na obra que são dignos de nota. Primeiramente, uma grande qualidade de Tolkien acaba se revelando também um defeito, que é exatamente a habilidade de descrever. Em diversos momentos o autor faz uso exacerbado das descrições, o que deixa a história lenta e consequentemente torna a leitura um tanto enfadonha em algumas passagens.
Outro aspecto negativo é o número de anões. A maioria deles é apenas referenciada na maior parte do livro, o que é compreensível, pois torna-se difícil explanar tantos personagens em poucas páginas. Talvez tivesse sido melhor escolher apenas cinco ou seis anões e assim poder trabalhar melhor cada um deles, sendo mais específico em suas características e, consequentemente, diferenciando-os. Isso certamente aumentaria o vínculo do leitor com cada um. No entanto, ocorre exatamente o contrário, de modo que se algum dos anões morresse, excetuando-se dois ou três, não causaria muito comoção no leitor.
Tal fato também é notório no desenvolvimento do personagem Bard, que surge no meio de uma situação tensa e logo ganha proeminência numa das mais importantes cenas da história. Ele executa um dos mais importantes papeis, porém sem causar no leitor o temor pelo que lhe possa ocorrer, pois até àquela altura não havia sido suficientemente explorado. Em vez disso, fica a impressão de que Bard surgiu mesmo do nada e, por ter ganhado a simpatia do autor, passou a ser trabalhado daquele ponto em diante na história.
Em resumo, sem dúvida a maneira superficial como Tolkien trabalha alguns de seus personagens (todos homens, o que pode ser outro defeito) acaba sendo um tanto deficitária. Como já dito anteriormente, isso provavelmente se deve ao número deles, pois alguns como Thorin e Bilbo são bem explanados ao longo da trama, e convenhamos que eles são, de fato, os mais importantes.
Um último aspecto negativo a ser observado, se o livro for analisado sob uma ótica menos infantil, diz respeito ao seu caráter triunfalista. Em resumo, no final, tudo dá certo, com apenas uma perda significativa. Uma taxa de sucesso muito alta até para os padrões hollywoodianos. Creio que as perdas fazem parte do curso natural da vida, e omitir isso acaba sendo até mesmo antididático, pois transmite uma ideia equivocada de como as coisas são realmente.
Por fim, entre mortos e feridos, Tolkien sai como vencedor diante, e apesar, de quaisquer críticas. Mas, como dito há pouco, houve, sim, algumas perdas, que acabam por ser muito importantes para todos nós escritores, pois aprendemos não apenas com acertos.


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