O Hobbit é um livro que dispensa
apresentações, assim como seu autor, especialmente depois das adaptações feitas
para o cinema. De caráter notadamente infantil, é elencado entre as grandes
obras de fantasia.
O livro relata a grande aventura vivida pelo hobbit Bilbo Bolseiro (tio de
Frodo, em Senhor do Anéis) em sua juventude. O hobbit se une a um bando de
anões e ao mago Gandalf na missão de libertar a Montanha Solitária do poderoso
dragão Smaug - que a tomou dos ancestrais de Thorin, herdeiro do trono ainda
vivo – e assim reaver o reino dos anões e seu tesouro. Thorin e seus doze
amigos anões, Bilbo e Gandalf percorrem várias regiões ao longo de centenas de
quilômetros, enfrentando perigos e adversidades até se defrontarem com Smaug.
Irei parar por aqui para não entregar o final da história.
Para quem deseja aprimorar o vocabulário, O Hobbit é uma ótima alternativa. Além disso, é possível aprender bastante com a magnífica habilidade de Tolkien para descrever os cenários e acontecimentos. O autor recorre frequentemente a figuras de linguagem como metáfora e prosopopeia, tornando por vezes seus densos textos em discursos quase poéticos.
Como já mencionado anteriormente, trata-se de um livro infantil, e como tal
deve ser lido, com suas lições sobre avareza, perdão, superação e outros
aspectos importantes na formação do caráter. Também não restam dúvidas quanto à
sua qualidade no tocante a permitir que a mente viaje por lugares diferentes,
sendo apresentada a seres mitológicos como orcs, elfos e o próprio dragão
Smaug, bem como a criaturas que guardam grande semelhança com aquelas que
conhecemos no mundo real, como lobos ou um homem que vira urso (refiro-me ao
urso, para deixar claro).
Entretanto, mesmo que estejamos falando de um mestre da escrita, respeitado e
reverenciado por suas obras, há aspectos negativos na obra que são dignos de
nota. Primeiramente, uma grande qualidade de Tolkien acaba se revelando também
um defeito, que é exatamente a habilidade de descrever. Em diversos momentos o
autor faz uso exacerbado das descrições, o que deixa a história lenta e
consequentemente torna a leitura um tanto enfadonha em algumas passagens.
Outro aspecto negativo é o número de anões. A maioria deles é apenas
referenciada na maior parte do livro, o que é compreensível, pois torna-se
difícil explanar tantos personagens em poucas páginas. Talvez tivesse sido
melhor escolher apenas cinco ou seis anões e assim poder trabalhar melhor cada
um deles, sendo mais específico em suas características e, consequentemente,
diferenciando-os. Isso certamente aumentaria o vínculo do leitor com cada um.
No entanto, ocorre exatamente o contrário, de modo que se algum dos anões
morresse, excetuando-se dois ou três, não causaria muito comoção no leitor.
Tal fato também é notório no desenvolvimento do personagem Bard, que surge no
meio de uma situação tensa e logo ganha proeminência numa das mais importantes
cenas da história. Ele executa um dos mais importantes papeis, porém sem causar
no leitor o temor pelo que lhe possa ocorrer, pois até àquela altura não havia
sido suficientemente explorado. Em vez disso, fica a impressão de que Bard
surgiu mesmo do nada e, por ter ganhado a simpatia do autor, passou a ser
trabalhado daquele ponto em diante na história.
Em resumo, sem dúvida a maneira
superficial como Tolkien trabalha alguns de seus personagens (todos homens, o
que pode ser outro defeito) acaba sendo um tanto deficitária. Como já dito
anteriormente, isso provavelmente se deve ao número deles, pois alguns como
Thorin e Bilbo são bem explanados ao longo da trama, e convenhamos que eles
são, de fato, os mais importantes.
Um último aspecto negativo a ser
observado, se o livro for analisado sob uma ótica menos infantil, diz respeito
ao seu caráter triunfalista. Em resumo, no final, tudo dá certo, com apenas uma perda significativa. Uma taxa de sucesso muito alta até para os padrões
hollywoodianos. Creio que as perdas fazem parte do curso natural da vida, e
omitir isso acaba sendo até mesmo antididático, pois transmite uma ideia
equivocada de como as coisas são realmente.
Por fim, entre mortos e feridos, Tolkien
sai como vencedor diante, e apesar, de quaisquer críticas. Mas, como dito há
pouco, houve, sim, algumas perdas, que acabam por ser muito importantes para
todos nós escritores, pois aprendemos não apenas com acertos.
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