Provavelmente você já deve ter ouvido ou lido por aí o conselho “não conte, mostre”. Mas o que é “contar” e o que é “mostrar”? Contar é apresentar informações úteis para a continuação da história – como enredo, passado das personagens, motivações, histórico do mundo, dentre outros – através da voz do narrador. Quando uma autora ou autor “conta” algo, as informações são lançadas diretamente no texto, num fluído contínuo, como em uma aula expositiva. É muito comum, por exemplo, em contos de fada. Observe o trecho abaixo, em que o narrador introduz as personagens, o cenário e parte da complicação:
“Às margens de uma extensa mata existia, há muito tempo, uma cabana
pobre, feita de troncos de árvore, na qual morava um lenhador com sua segunda
esposa e seus dois filhinhos, nascidos do primeiro casamento. O garoto
chamava-se João e a menina, Maria.
A vida sempre fora difícil na casa do lenhador, mas naquela época as
coisas haviam piorado ainda mais: não havia comida para todos.” (João e Maria,
Irmãos Grimm)
Já a técnica de “mostrar” apresenta informações por meio de outros
elementos narrativos, como diálogo, monólogos internos, ação… No exemplo do
trecho acima, ao invés de “contar” que há muito tempo atrás existia uma cabana
pobre com um homem, sua esposa e seus dois filhos, a autora ou autor poderia
“mostrar” essas informações, iniciando a história com uma cena de diálogo entre
os familiares, em que o principal assunto fosse a falta de comida, pontuando o
texto com descrições do casebre.
Não há nada de errado em “contar”, mas uma informação fora de hora pode
quebrar todo o fluxo do texto. Além disso, muita informação pode torná-lo
tedioso e afastar as leitoras e leitores. Por isso, fizemos uma lista com os
principais elementos usados para “mostrar” e as melhores formas de
trabalhá-los.
1) Diálogo
O diálogo é um dos elementos que mais podem ajudar na hora de “soltar”
informações relevantes para sua história. Por exemplo, você precisa contar
sobre a guerra entre drones e pôneis alienígenas, ocorrida em seu cenário cem
anos antes do período presente. Ao invés de iniciar um parágrafo com “há cem
anos atrás, uma raça de pôneis alienígenas invadiu Fertulia. Para combater seu
avanço, a humanidade criou poderosos drones de guerra”, você poderia criar uma
cena em que uma professora narrasse para seus alunos o acontecido, ou
simplesmente polvilhar a informação em um diálogo entre duas personagens. Mas
cuidado para não construir um diálogo irreal, colocando duas personagens para
discutir um assunto que ambas saberiam. Esse erro, conhecido como “como você já
sabia, Fulano”, é muito comum entre escritoras e escritores iniciantes e tira a
credibilidade de uma cena. Uma dica para evitar essa situação é ter certeza que
uma das personagens no diálogo ainda não saiba da informação que lhe é
contada, e que essa informação seja pertinente para a personagem.
2) Ação
Ação são momentos em que as personagens interagem com a trama. Não
precisam ser necessariamente momentos físicos – podem representar dilemas
morais, apresentação de novos paradigmas, dentre outros. É possível usar a ação
para passar informações sobre o seu cenário e agitar o seu enredo. Por exemplo,
uma cena mostrando uma personagem resgatando um documento perdido, além de dar
o tom de sua história, pode transmitir informações sobre o histórico do mundo,
a personalidade da personagem, suas motivações… E tudo de forma orgânica e
fluida.
3) Monólogos internos
“Monólogos internos” são momentos de contemplação das personagens,
quando temos acesso aos seus pontos de vista, motivações e impressões sobre o
mundo. São uma ótima forma de dar informações de pano de fundo e experiências
passadas. Você deve ter cuidado, entretanto, para que esses pensamentos ocorram
de maneira crível. Não é muito crível, por exemplo, que uma personagem pare
tudo o que está fazendo, sente-se numa pedra e comece a refletir sobre seus
pais. Da mesma forma, evite avisar que a personagem irá fazer uma pausa para
reflexão – “Fulano suspirou e lembrou de seu primeiro dia de aula”. Uma dica
para criar bons monólogos internos é mistura-los com um pouco de narração.
4) Narração
Por fim, é impossível passar todas as informações de uma história sem
usar a narração. Como citamos no começo da postagem, narrar informações pode
ser um problema quando quebra o fluxo do texto ou quando é usada em grandes
trechos, tornando-se tediosa. Porém, em pequenos trechos a narração pode ser
uma importante ferramenta. Lembre-se de informar somente o necessário e
mantenha as informações sempre relacionadas à cena em questão.
Fonte: https://escrevendofantasia.wordpress.com
Por Luísa Montenegro
Fonte: https://escrevendofantasia.wordpress.com
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